Procissão das Almas

26/05/2010 23:15

 

Por volta de 1905, em Santa Branca, ainda havia muitas procissões. Estes eram momentos em que toda a sociedade encontrava-se para realizar suas orações e ver-se. As procissões, mais do que um momento religioso eram verdadeiras festas da comunidade. A vida em comunidade tinha suas regras. Havia entre as pessoas a preocupação umas com as outras. E quem avisava amigo era, e de verdade. Certa costureira que morava na Rua Direita, perto do Mercado Municipal, não se preocupou muito com os conselhos do povo. E sabe-se bem o dito popular: ”quem não ouve ou é louco ou é bobo”. A costureira foi avisada que a cada sete anos, em sexta-feira de lua cheia, acontecia a procissão dos mortos. No dia previsto, a mulher preparou-se para confirmar o que achava uma bobagem do povo. Deixou seus afazeres de lado, observou o cair da noite e foi para a janela, que já estava deserta, pois ninguém queria pagar para ver. E lá ficou e enquanto esperava, viu ao longe, no alto da ladeira, apontar uma procissão, cheia de pessoas. A mulher não teve medo, admirou a beleza da procissão. Permaneceu na janela, observando uma sucessão de caminhantes vestidos de preto, outros de branco, todos segurando velas. De repente, um dos caminhantes parou em frente a janela da curiosa mulher e entregou-lhe a vela que trazia em suas mãos. A mulher prontamente aceitou e continuou assistindo a procissão passar e desaparecer nas proximidades do cemitério. Terminada a procissão, a mulher foi descansar para a labuta do dia seguinte, antes, porém, guardou a vela que recebeu durante a procissão. No dia seguinte, quando foi procurar pela vela, encontrou desesperada, no lugar da vela, um osso de defunto, mais especificamente da canela do defunto que a presenteou.

Sem saber o que fazer com aquilo, foi aconselhada por um padre a realizar o seguinte ritual: escolher duas crianças que ainda mamassem para devolver o osso porque provavelmente o defunto voltaria para buscar o seu osso. Na noite seguinte, a procissão retornou para que seu membro pudesse recolher seu osso. A mulher lá estava no mesmo lugar, mas desta vez com as crianças no colo. Ao passar perto da mulher o vulto se aproximou dela e recebeu seu osso da canela deixando a ela a sentença de que só não já estava entre eles por causa da inocência das crianças que carregava no colo. Ficou ainda a lição de que, advertidos, jamais devemos meter o nariz onde não fomos chamados.

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