O Unicórnio

27/05/2010 11:02

O Unicórnio

Plínio, o naturalista romano, cuja descrição do unicórnio serve de base à maior parte das descrições feitas pelos modernos, pinta-o como "um ferocíssimo animal, semelhante no resto do corpo a um cavalo, com a cabeça de cervo, patas de elefante, cauda de javali, voz retumbante e o único chifre preto, de dois côvados de comprimento, (cerca de 1,20 m.) no meio da testa". Acrescenta que o unicórnio "não pode ser apanhado vivo" e, de certo modo, tal desculpa devia ser apresentada naqueles dias pelo fato do unicórnio não aparecer nas arenas dos anfiteatros.

O unicórnio constituía um problema para os caçadores, que não sabiam como se apoderar de tão valiosa presa. Alguns descreviam seu chifre como podendo mover-se à vontade do animal, uma espécie de espada, em resumo, a qual nenhum caçador que não fosse habilíssimo na esgrima teria possibilidade de enfrentar com sucesso. Outros afirmavam que toda a força do animal estava no chifre e que, quando perseguido de perto, ele se atirava do alto dos mais elevados rochedos, com o chifre para a frente, de maneira a cair sobre ele, e, depois, tranqüilamente, levantava-se, sem nada haver sofrido com a queda.

Finalmente, porém, acabou-se achando um meio de vencer o pobre unicórnio. Descobriu-se que ele era grande admirador da pureza e da inocência e que cedia terreno quando encontrava em seu caminho uma jovem virgem. Vendo-a, o unicórnio se aproximava cheio de reverência, ajoelhava-se diante dela, e, pondo a cabeça em seu regaço, adormecia. A traiçoeira virgem fazia, então, sinal aos caçadores, que se aproximavam e capturavam o simplório animal. Os modernos zoólogos, naturalmente descrentes de tais lendas, não levam a sério a existência do unicórnio. Existem, contudo, animais que têm na cabeça uma protuberância óssea mais ou menos semelhante a um chifre, que podem Ter dado origem à lenda. O chifre do rinoceronte, como é chamado, é uma dessas protuberâncias, embora de tamanho bem pequeno e não correspondendo de modo algum à descrição do chifre do unicórnio. O que há de mais semelhante a um chifre no meio da testa é a protuberância óssea que existe na cabeça da girafa, mas, também esta é muito curta e rombuda, e não constitui o único chifre do animal, e sim um terceiro chifre, em frente dos dois outros. Em resumo, embora possa ser excessivo negar-se a existência de outro quadrúpede de um só chifre, além do rinoceronte, pode-se afirmar com segurança que a existência de um chifre comprido e resistente na testa de um animal semelhante ao cavalo e ao veado constitui perfeita impossibilidade.

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